sexta-feira, 25 de junho de 2010
Farmacologia Marinha
A atenção das grandes indústrias farmacêuticas só se voltou para o potencial farmacológico dos oceanos nos últimos anos. Isso é corroborado pela companhia PharmaMar, fundada em 1986, que ganhou nos últimos vinte anos uma divisão exclusiva e um investimento bilionário para pesquisa de fármacos de origem marinha - vinte anos é pouco tempo, levando em conta que todo o processo de descoberta, manipulação e liberação para o público dessas drogas leva cerca de quinze anos. Outra companhia, a Nereus Pharmaceuticals, fundada em 1998, já nasceu voltada para a farmacologia marinha. Existem hoje no mercado alguns fármacos cujo princípio ativo foi obtido de organismos marinhos - um exemplo é o analgésico isolado a partir veneno do molusco marinho Conus magnus, a ω-Conotoxina MVIIA ou Ziconotídeo.
O gênero Conus é encontrado sobretudo na região do Oceano Indo-Pacífico, preferindo água tropicais quentes, correntes ou profundas. Bentônicos, frequentemente estão associados a recifes de coral e pedras e suas conchas assumem uma forma geométrica similar a um cone invertido, como é típico da família Conidae.
Conus magnus é um gastrópode prosobranquiado que possui uma proboscíde associada a uma glândula de veneno. É carnívoro e utiliza seu veneno (ω-conotoxinas) para paralisar suas presas (pequenos peixes) em um curto período de tempo. Este veneno, se utilizado na dose adequada em humanos, inibe a geração de dor por meio do bloqueio do influxo de cálcio nos terminais neuronais, dificultando a neurotransmissão dos impulsos.
Essa substância substitui os analgésicos tradicionais morfina (que pode causar vício) e gabapentina, e apresenta, inclusive, um efeito mil vezes mais potente que a primeira.
Outros exemplos de fármacos de origem marinha:
Ecteinascidina – extraída dos tunicados, está sendo testada em humanos para o tratamento do câncer de mama e de ovário e de outros tumores sólidos.
Topsentina – Anti-inflamatório extraído das esponjas Topsentia genitrix, Hexadella sp. e Spongosorites sp..
Lasonolide –Agente anti-tumoral extraído da esponja Forcepia sp..
Discodermolide - Agente anti-tumoral extraído das esponjas abissais pertencentes ao gênero Discodermia.
Briostatina – Extraída do briozoário Bugula neritina, é um tratamento potencial para a leucemia e o melanoma.
Pseudopterosinas – Agentes antiinflamatórios e analgésicos extraídos do octocoral (chicote-do-mar) Pseudopterogorgia elisabethae que reduzem o inchaço e irritação da pele e aceleram a regeneração das feridas.
A maioria dos organismos que produzem essas moléculas tão fortes possui algumas características em comum: são sésseis ou com reduzida capacidade de locomoção, de corpo macio e desprovidos de estruturas físicas de defesa. A provável razão dessa semelhança é a função ecológica de ser venenoso (assegurar o sucesso do hospedeiro na competição por espaço e/ou na defesa contra predadores e microorganismos patogênicos). A alta potência da bioatividade dessas moléculas de origem marinha reforça essa hipótese da sua função protetora, pois elas devem superar a grande capacidade diluente da água do mar para atingir seu alvo e surtir efeito. Entretanto, no processo de transformação das "armas químicas" dos organismos marinhos em fármacos para uso humano, essa característica resulta na alta toxicidade destas moléculas ou em intoleráveis efeitos colaterais. O baixo rendimento do material, a complexidade estrutural dos produtos e sua consequente dificuldade de síntese somam-se à lista de motivos que dificultam o desenvolvimento de fármacos de origem marinha.
Fontes:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/saude/conteudo_263086.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u13910.shtml
http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=microrganismos-marinhos-fornecem-principios-ativos-para-medicamentos&id=3097
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422009000300014&script=sci_arttext
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:r_eFHICXEOQJ:oarquivo.com.br/portal/index.php%3Foption%3Dcom_content%26view%3Darticle%26id%3D2101:5-animais-marinhos-que-voce-nao-acredita-que-podem-te-matar%26catid%3D74:curiosidades%26Itemid%3D394+conus+magnus+conhecida&cd=7&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a
http://oceanexplorer.noaa.gov/explorations/07twilightzone/background/edu/media/drugstore.pdf
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Adorei essa postagem! Tinha muita vontade de trabalhar com toxinologia de animais marinhos. Maaaaas, no meio do cerrado só dá pra trabalhar com toxinologia de animais do cerrado, ne!
ResponderExcluirO Brasil tem um potencial imenso para a prospeção de fármacos de origem marinha!
Também gostei da postagem. Para quem quer trabalhar com toxinologia de animais marinhos - a UnB dá as ferramentas depois é só ganhar mundo. Em Fortaleza, na UFC, tem um grupo de pesquisa que trabalha com isso.
ResponderExcluirBjs MJ
muito bom mesmo! E imagina o tanto que ainda se pode descobrir sobre o potencial farmacológico de tantos outros animais marinhos que a gente não faz nem idéia...
ResponderExcluirNa verdade agente explora muito pouco do potencial brasileiro relacionado à farmacologia do ecossistema,tanto marinho quanto florestal.
ResponderExcluirEstas informações são muito úteis para trabalhos na área da Biologia Marinha, por exemplo...
ResponderExcluirduvida:
ResponderExcluirquer dizer entao . eu me formando farmaceutico, puxando para area de farmacologia , eu posso trabalha com animais marinhos ?